Certificação de conhecimentos

Quem estuda nos nossos dias sabe que a avaliação é a parte mais dúbia do nosso sistema de ensino. Mais do que a dificuldade em adquirir o conhecimento, saber o que esperar no momento da avaliação é muitas vezes ainda mais complexo do que apreender a matéria de avaliação.

Primeiro temos os formadores que despejam matéria sem qualquer interesse pela quantidade desse conhecimento que os seus formandos conseguem adquirir.

O segundo grupo é o dos formadores que estabelecem uma nota máxima diferente da inicialmente estabelecida, e que todos os seus formandos são avaliados pela escala que resta depois de removidas as notas em questão.

A isso, juntam-se muitas vezes os numeros clausulos, uma espécie de número máximo de alunos aprovados. Nunca ouvi falar de uma universidade reconhecer oficialmente estas directivas, mas tendo em conta a frequência com que o rumor se ouve, parece-me plausível o suficiente para achar que a situação é real.

A juntar a isto, existe ainda o problema da uniformidade da matéria e das notas entre as muitas universidades. Como não existem curriculos únicos que sejam seguidos e reconhecidos por todas as universidades, e como a avaliação é feita a gosto por cada formador, não se conseguem comparar notas e curriculos.

Solução

Mas isto é bastante simples de resolver. Para resolver este problema basta criar uma entidade independente das universidades, que crie curriculos precisos, monotemáticos, organizados de forma sistemática, e a eles associar um sistema de avaliação dos conhecimentos de cada curriculo, automático.

Não estamos sequer a falar de criar tecnologia nova, as certificações técnicas de informática já assim são feitas há vários anos. Falamos apenas de criar testes para cada cadeira, validar esses testes e passar a usar esse sistema para certificar os conhecimentos.

Vantagens

Há várias questões que um sistema de avaliação automática e uniforme de conhecimentos tornam muito mais simples, ou simplesmente deixam de se colocar.

Em primeiro lugar faz com que avaliações baseadas no ego do avaliador deixem de existir. Um sistema de avaliação automático de conhecimentos acaba completamente com questões como os limites reais inferiores aos limites teóricos das notas. Há em portugal muitos professores que nunca deram um 18 ou um 19, quanto mais um vinte. Muitas cadeiras onde isto acontece. No entanto, continuamos a dizer que a avaliação é feita numa escala de 0 a 20.

Depois temos o problema da equivalência das cadeiras, o prestigio da universidade, a relação das notas. Quando duas universidades têm duas cadeiras, com curriculos idênticos, como a avaliação é feita por professores diferentes, e os exames escritos pelos professores das cadeiras, a relação das notas dos formandos não tem necessariamente correspondência com os conhecimentos de cada avaliado. Com um sistema de avaliação automático e independente do sistema de formação (ou de apoio à aprendizagem, como idealmente seria), seria simples comparar as notas de dois formados numa área. Bastava comparar as notas.

A avaliação dos vários intervinientes no sistema educativo também poderia ficar mais simples em consequência disto, mas isso é matéria de um outro post, relativo à transformação necessária do actual sistema de ensino num sistema de aprendizagem.

Um sistema de avaliação modular, e um sistema de ensino associado a isso também acabam com algumas das questões mais polémicas no nosso sistema de ensino actual. Idealmente o ensino seria gratuito, e eu acho que enquanto sociedade esse é um dos mais importantes investimentos que podemos fazer, e provavelmente dos que melhor retorno nos traria no futuro próximo. Mas enquanto isso não acontece, as propinas são um dos custos importantes para um estudante. E, na sua forma actual, uma dos custos mais injustos, especialmente para os trabalhadores estudantes. Nas universidades públicas, de uma forma geral, e em muitas das universidades privadas a propinal é um valor fixo anual ou mensal. E esse valor é independente no número de cadeiras em que o aluno esteja inscrito.

Com um sistema de avaliação e ensino modular, as propinas deveriam ser relativas a cada módulo e a cada exame feito. Uma pessoa que esteja apenas a fazer um módulo pagará um valor diferente de outra que esteja a fazer mais módulos.

Claro que isto é caminhar no sentido oposto ao que o nosso sistema de ensino tem percorrido. Ao longo dos últimos anos foram-se introduzindo momentos de avaliação global no final dos ciclos, e reduzui-se à quase insignificancia total os momentos de avaliação intermédios desses ciclos. E espera-se que no final de um ciclo de 2 ou 3 ou 4 anos os alunos se lembrem de toda a informação que lhes foi descarregada em cima, nem sempre com muito cuidado, muitas vezes com muito pouca consistência.

A avaliação intelectual é muitas vezes encarada como um momento de stress, e em consequência disso tenta-se reduzir o número de momentos em que essa avaliação acontece. Mas a verdade é que é no sentido oposto que temos que caminhar, temos que tornar a avaliação tão comum, e a quantidade de conhecimentos a avaliar inicialmente tão reduzida que ela não provoque qualquer dificuldade. E encarar-se a reavaliação como uma coisa normal. Mesmo para aqueles alunos que já foram avaliados.

Na realidade isso pode ser feito com coisas tão simples como o saber escrever o alfabeto, como saber escrever os primeiros números e contar os primeiros conjuntos.

Criar um sistema que avalie a perfeição com que as letras são desenhadas não é assim tão simples. As formas ideais das letras são facilmente comparadas com as tentativas ejectuas sobre um ecrã táctil, e isso pode ser feito rotineiramente uma vez por semana, para avaliar quantos dos alunos estão aptos para passar à fase seguinte.

Mas um sistema deste tipo tem ainda mais vantagens. Um sistema deste tipo pode ser facilmente distribuidos a todos os alunos para que possam pré-avaliar as suas capacidades ainda antes do exame real.

Desvantagens

Implementar um sistema deste tipo tem custo? Certamente. Mas esses custos são insignificantes ao fim de muito pouco tempo, quando comparados apenas com o tempo que os professores perdem a criar exames e corrigi-los ano após ano após ano.

E, de momento, não consigo pensar num sistema que seja mais justo para todos os alunos, mais uniforme, que seja mais simples de distribuir para permitir aos alunos ter uma noção mais real da suas capacidades ainda antes dos exames e que seja realmente um sistema de avaliação de conhecimentos, e não o que muitas vezes acontece, um sistema de avaliação de compatibilidade de personalidades ou um egómetro.

Há alguma vantagem ou desvantagem que encontrem num sistema deste género e que eu nao tenha aqui referido? Alguma alternativa mais interessante? Deixem-me comentários.


Leave a comment

Your comment