Por um novo modelo de greve

Nas passadas quinta e sexta-feira a função pública esteve de greve. Tentei ir ao centro de saúde, mas foi debalde. Estava fechado com vários papeis colocados na porta com as habituais palavras de ordem “Contra a opressão”, “Pelos direitos dos trabalhadores”, ou outras do género que agora não consigo lembrar. Mas sejamos realistas, quem é que percebeu realmente porque fazem greve os nossos funcionários públicos?

E dos funcionários em greve no nosso país, quantos é que fizeram greve, se manifestaram, e quantos é que aproveitaram para fazer um fim de semana de três ou quatro dias?

Sim, porque não me digam que todos os funcionários publicos que não trabalharam nos dias referidos estiveram realmente de greve. A greve real, as manifestações foram feitas pelos sindicalistas e por uma pequena minoria dos funcionários em causa. Acredito realmente que a maioria dos trabalhadores da função pública não sabe sequer quais são os direitos que lhes querem retirar, e em que é que poderão vir a ter as suas condições de vida ou de trabalho diminuídas se o governo for o papão que os sindicatos dizem (e não digo que não o seja).

Mas acima de tudo, a greve de quinta e sexta-feira em nada serviu para esclarecer a opinião pública e colocá-la do seu lado (se é que é possível a opinião publica ficar do lado da função pública, não sei).

E é precisamente por isso que eu acho que este modelo de greve é perfeitamente desajustado da realidade. Assim, aqui deixo um novo modelo de greve.

Novo modelo de greve

O novo modelo de greve que proponho é simples. E pode ser extendido a quase qualquer sector de actividade.

Em vez de se fecharem os serviços e os funcionários ficarem todos em casa a gozar umas merecidas(?) férias em fim de semana perlongado, todos os funcionários se deverão apresentar ao serviço que deverá ser feito da forma regular, com apenas algumas alterações menores.

Vejamos:

  1. Todos os funcionários deverão andar com uma braçadeira a dizer “Em Greve”. Em vez de um braçadeira poderá ser uma camisola, ou um chapéu. Nunca deverá ser tirado durante o periodo de greve.
  2. Todos os clientes/utentes deverão receber um panfleto (realmente) informativo acerca das razões da greve.
  3. Nos serviços em que normalmente são recebidos pagamentos apenas se aceita a forma de pagamento menos usual.
    1. No caso do estado podem mesmo preparar-se envelopes endereçados a um qualquer serviço central do estado relacionado com a gestão desses pagamentos, e entregá-los aos utentes, com a indicação de que deverão colocar o pagamento em cheque nesse envelope, juntamente com uma nota de dívida entregue pelo serviço.
    2. Pode também ter-se uma caixa onde os envelopes podem ser colocados, e que depois os próprios serviços fazer chegar ao referido gabinete (atráves dos correios, não por correio interno).
  4. O atendimento deve ser tão eficiente quanto possível.
  5. Um serviço normalmente pago deverá ser prestado gratuitamente durante a greve.
    1. Na greve do metro, por exemplo, seria permitido a todos os passageiros viajar sem bilhete
    2. Nos centros de saúde, um serviço que normalmente pague taxa moderadora (como os serviços de enfermagem ou as consultas) seria isento durante o periodo de greve.

Na essência, pretende-se um novo modelo de greve, em que se informe a opinião pública das razões dessa greve, em substituição do actual que tanto não informa como ainda prejudica a sociedade, normalmente com consequências menores para a entidade cuja atenção se pretende obter.


2 Comments

CatarinaSeptember 5th, 2009 at 23:58

Concordo com o que disseste, mas apenas quero acrescentar que sempre que existe greves ou manifestações seja de que cariz forem normalmente a maioria dos participantes ou não, não sabem do que se trata, sim porque o que as pessoas querem é “folgas” ou “férias” como preferirem chamar.

Relativamente ao modelo de greve, haveria também outras formas de se fazer sentir muito mais os nossos objectivos, por exemplo, numa empresa de produção de um qualquer produto, podia-se produzir muito mais nos dias de greve do que era suposto, isso iria provocar um excedente imenso de produção, que a própria fábrica/empresa iria notar logo a nivel de matérias-primas, como também de produto final em stock, aumentando assim os seus custos muito maiores do que se os trabalhadores não trabalhassem.

Outro exemplo, completamente distinto do anterior é as greves dos alunos do ensino superior contra os aumentos das propinas, condições da faculdade,…, uma boa solução é o não pagamento das propinas (sim eu sei, é uma solução irrealista, mas se se conseguisse iria haver mudanças, quase de certeza) pelo menos da primeira prestação, pois eles iriam logo sentir os efeitos da falta daquele dinheirinho e iriam pensar no caso mais seriamente. Outra coisa a fazer era os alunos irem em peso às aulas nos dias da greve, aí também iriam ver que não havia condições de se realizar as aulas.

Rafael BernardoSeptember 6th, 2009 at 00:00

Considero que esse seja um debate muito importante e com possíveis resultados realmente eficazes a médio e longo prazos. Visitem o site que criei para divulgar alguns textos de minha autoria e colaborem caso queiram. Conhecem outras pessoas e sites interessados no assunto?

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