Um sistema de aprendizagem

Desde a era industrial a nossa sociedade criou algo que apelidou de “Sistema Educativo”. Trata-se de um sistema que tinha como principal objectivo fornecer ao proletariado a informação e capacidades técnicas suficiente para executarem as tarefas necessárias à operação das linhas de montagem/transformação das fábricas.

Há quem diga que já ultrapassamos a era industrial, mas a verdade é que continuamos lá presos por várias razões. A principal dessas razões é a mentalidade de curto prazo da nossa sociedade. Mas não é a única. Na realidade, todos nós nos habituamos muito aos produtos que as muitas fábricas espalhadas um pouco por todo o lado produzem e transformam.

E acima de tudo continuamos com um sistema de educação que continua a criar ovelhas para o rebanho de empregados das grandes empresas. Sim, muita coisa mudou desde a era industrial, mas a forma como o nosso sistema formativo está criado faz com que ele demore tempo a reagir, e normalmente o faça em consequência de pressões externas, especialmente de empresas, cujo objectivo é o próprio lucro no curto prazo.

Ao longo das últimas decadas até o sistema educativo foi sendo privatizado, mesmo naqueles paises, como Portugal, onde existe uma quota significativas de universidades designadas de públicas, se tem tornado bastante proibitivo frequentar o ensino superior.

Mas, além de dispendioso, o sistema educativo português não está também organizado para permitir a quem trabalha aprofundar os seus conhecimentos. São poucos os cursos e menos as universidades disponíveis em horários pós-laborais, e a quase totalidade dessa oferta encontra-se nas universidades privadas, com a implicação monetária que daí advém. Mas mesmo quando os horários laborais ou a escolha do curso permitem conjugar um emprego com um curso, as propinas são, mesmo nas universidasdes públicas, proibitivas – já não contando, claro, com os restantes custos relacionados, como documentação (livros, nos dias que correm, que até as cópias para fins educativos são nos dias que correm crime), documentação e similares.

É por isso, necessário criar um novo sistema, não mais um sistema educativo ou um sistema de ensino, mas um sistema de aprendizagem, na verdadeira ascensão do termo, um sistema que permita às pessoas aprender ao seu próprio ritmo, que permita a cada um desenhar o seu próprio progresso, o seu próprio angulo de ataque ao vasto conhecimento que a humanidade já hoje acomulou, e aquele que ao longo dos tempos irá certamente continuar a acomular de forma exponencial.

A estrutura académica actual não faz já sentido. Porque razão mantemos ainda a estrutura clássica dos cursos, com cursos como Engenharia Informática a terem cadeiras como quimica e fisica? Porque é tão díficil, mesmo depois de bolonha, alguém fazer uma licenciatura mista em Ciências e Linguas? Porque não retirar metade da carga básica de uma licenciatura em Fisica para sair da faculdade com um muito maior conhecimento em Fisica Núclear?

A quantidade de conhecimento existente hoje em qualquer área de conhecimento já não é adquirível por um humano (bem, talvez um ou dois tenham essa capacidade, mas a grande maioria de nós não tem, e felizmente, essa capacidade não é realmente necessária), então porque razão continuamos a ter licenciaturas que parecem ser tudo o que cada um de nós irá precisar para o resto da vida, mas que na realidade não vão para além do conhecimento inutilmente básico e apenas quando somos apresentádos ao nosso primeiro trabalho é que começamos verdadeiramente a aprender.

Mas, mais do que isso, porque é que a nossa sociedade torna tão díficil continuar a aprender ao longo da vida? Porque é que estudamos ou trabalhamos 40+ horas por semana? O que é que é preciso para conseguirmos trabalhar e estudar? E para conseguirmos estudar aquilo que percebemos que seria uma mais valia para a nossa vida profissional?

Mas nao basta fléxibilizar o sistema de ensino, é preciso também criar um sistema de certificação de conhecimentos independente das instituições de ensino que permita, por um lado garantir os conhecimentos de todos os formandos, mas também permitir a auto-didatas e pessoas com experiência certificar os seus conhecimentos. Mas, sobre o que penso disso, já vou falei em Certificação de Conhecimentos.

Um novo sistema

Como criamos um sistema que seja orientado para a aprendizagem e que nos permita aumentar e actualizar os nossos conhecimento ao longo da vida e das necessidades da nossa vida profissional?

Bem, em primeiro lugar estruturamos o nosso conhecimento de forma modular. Quer dizer, o nosso ensino básico e secundário tradicional, porque o nosso ensino superior já está estruturado dessa forma.

Depois de termos o conhecimento estruturado dessa forma criamos um sistema de dependências, por forma a garantirmos que não andamos todos a desperdiçar tempo a tentar ensinar conhecimento de níveis superiores a quem não adquiriu os conhecimentos sobre os quais os novos conhecimentos se estruturam – a título de exemplo, seria necessário primeiro obter aprovação a um módulo de equações para poder frequêntar um módulo de derivadas.

Estes modulos, obviamente, seriam divididos em níveis – o que é hoje o nosso ensino básico seria o primeiro nível, o ensino secundário o nível dois, e a partir daí podemos criar diferentes níveis. Além de níveis temos as obvias áreas temáticas.

O sistema de crédito utilizado actualmente em muitas universidades e previsto no tratado de Bolonha é perfeitamente adequado para indicar o esforço necessário para completar um módulo (ou uma cadeira, como lhe famam os alunos do ensino superior).

E depois disso passamos a utilizar apenas os modulos como base do nosso sistema formativo.

Em primeiro lugar tudo passa a ser relativo a cada módulo – propinas, documentação e avaliação. E dentro de cada nível, a velocidade de progressão e a selecção dos módulos cujas dependências tenham sido avaliadas positivamente é feita à vontade do estudante.

Claro que no ensino todos os módulos seriam de passagem obrigatória, pois pretendemos criar uma sociedade mais culta, não uma que tenha ainda menos conhecimentos. Mas mesmo aí um sistema de avaliação modular é vantajoso sobre um sistema de avaliação anual (ou multianual como o que na realidade temos hoje no ensino básico). A principal razão porque um sistema modular é preferível é porque permite idêntificar exactamente onde cada aluno não atinge os objectivos, e repetir apenas esses módulos, por contrapartida a repetir todo o ano escolar.

No sistema actual, um aluno pode passar de ano sem atingir os objectivos a mais do que uma disciplina, ou repetir totalmente de ano se não atingir os objectivo a apenas um disciplina, quando o que deveria acontecer era terem que repetir as partes das disciplinas em que não atingiram o nível mínimo de conhecimento considerádo aceitável.

Na realidade, um estudante que apenas não atinge os objectivos num parte (ou na totalidade) de uma disciplica passaria a poder transtitar de ano, acomulando os módulos não concluidos com as diciplinas do ano seguinte que não tenham dependências das primeiras. E claro, quando deixa apenas uma pequena quantidade de módulos pode sempre preparar-se para elas nas férias de verão e fazer novamente exames no inicio do ano lectivo seguinte.

Em que é que um sistema de avaliação deste tipo é diferente do que é hoje o formato utilizado pela universidades, onde os cursos já são divididos em cadeiras?

Em primeiro lugar ao associarmos as propinas à frequência dos módulos passamos a ter uma relação financeira muito mais justa, e que permite que cada pessoa estude ao seu próprio ritmo. Quem estuda a tempo inteiro pode querer fazer 10 módulos num ano, enquanto uma outra pessoa que tenta adquirir algum conhecimento extra pode querer fazer apenas um ou dois módulos, e a cada uma dessas pessoas deve ser cobrada um propina relativa à formação que lhes está a ser ministrada, e não á quantidade de tempo que passa desde que começa o ano lectivo até que termina – sim, porque hoje, mesmo um aluno que queira fazer apenas uma cadeira num dos semestres tem que pagar a totalidade da propina do ano.

Depois, em conjunto com um sistema de avaliação independente passamos a conseguir definir graus académicos mesmo que a formação relativa a cada um dos módulos necessários à atribuição desses graus seja feita num estabelecimento de ensino diferente. E permitimos que os autodidactas consigam progredir na certificação dos seus conhecimentos sem frequêntar qualquer estabelecimento de ensino.

E, claro, poderiamos passar a divulgar as nossas habilitações académicas como número de créditos certificados por área de conhecimento. Deixariamos de ser licenciados em economia, para passarmos a ter 60 Créditos em Economia, 10 em Direito, 20 em Contabilidade, 10 em Gestão e 20 em Matemática.

O Que acham? Têm outras opções? Deixem-me comentários.


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