Portugal desgovernado

O primeiro-ministro José Socrates apresentou a noite passada o seu pedido de demissão, depois de o parlamento ter rejeitado o PEC IV, apresentado pelo governo às instituições europeias antes de aprovado pela Assembleia da República.

Eu tenho alguma dificuldade em entender como este nó foi criado.

Em primeiro lugar não consigo perceber como é que o PEC foi apresentado na Europa antes de ser apresentado ao parlamento português e ao Presidente da República.

Em segundo lugar não consigo perceber como é que nenhum dos partidos da oposição apresentou nenhuma alternativa, nenhuma lista de coisas que não considera aceitáveis no PEC do Governo, nenhuma lista de coisas que poderia ter um impacto significativo no défice e que não foram incluidas, nada.

Em terceiro lugar, custa-me perceber qual será agora o futuro de Portugal. Não vejo nenhuma alternativa razoável, nenhum partido que considere que têm simulteneamente qualquer possibilidade de fazer parte de uma coligação de governo (já nem considero governar sozinho), e em que eu confie para governar Portugal de forma diferente do que tem acontecido nos últimos 30 anos.

Mas, mais do que isso, não percebo como é que se continua a jogar com custos de milhares de milhões de euros (BPN) para ver em que orçamento de estado é que esses custos se podem espremer. Afinal de contas as contas do estado são algo sério ou são um brinquedo de crianças que se espreme e estica à vontade do freguêz?

Campanha "Queremos mais"

Queremos Mais

Mas, não é por Portugal estar sem governo que deixa de ser importante continuarmos a dizer o que esperamos do Governo de Portugal. Pelo contrário. É precisamente porque vamos ter os partidos nas ruas a pedir os nossos votos (e pagos por nós, mais uma vez), que esta é a altura ideal para dizermos que Queremos mais. É esta a altura para perguntar aos vários partidos o que eles pretendem fazer acerca das questões que consideramos importantes, e para depois votar nos partidos que nos derem as respostas certas.

As respostas, claro, não vão resultar em acções, apenas em desculpas para continuar a não fazer nada, como tem acontecido até aqui. Mas pelo menos perguntámos, pelo menos forçamos a que as respostas sejam dadas. E com isso haverá razões para voltar às ruas quando as acções não forem tomadas, quando o futuro Governo fizer o contrário do que nos disse o seu partido que iriam fazer.

É outra vez altura de escolher, e uma escolha destas, principalmente numa altura como a que Portugal atravessa, deve ser uma escolha informada. Muito informada. Tão informada quando possível. E isso não se consegue com comissios, isso não se consegue com festas e concertos e sardinhadas, isso não se consegue com multidões. Isso consegue-se com grupos menores, isso conseguesse respondendo às pessoas.

Tenho a certeza que os principais partidos irão criar novamente os seus blogs, as suas páginas no facebook e no twitter. Sugiro que os aproveitem para perguntar às pessoas quais são as questões que as preocupam, e que lhes respondam da forma mais clara e honesta possível.

E a todos nós compete perguntar, a todos nós compete dizer o que esperamos de um futuro governo para Portugal. Chega de dizer diariamente que as campanhas dos principais partidos são uma palhaçada. Já todos sabemos isso. Depende de nós fazer com que o não sejam desta vez. Acham que é possível?

2 Comments

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DonPedroMarch 27th, 2011 at 19:06

Portugal no seu melhor!

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